“O Roger é nossa versão de “The Great Rock ‘n’ Roll Swindle“. Certo que é desonestidade estética não reconhecer discos memoráveis do Ultraje, mas essa história de maior QI do rock nacional sempre foi uma grande balela. E nada tem a ver com suas preferências políticas. É um cara da média (por duas vezes – as que contei – ele diz ao responder algumas perguntas: “Esqueci o nome aqui agora”). Basta alguém um pouco mais atento e perspicaz pra compreender que está diante de uma pessoa com QI normalíssimo. Isso tbm não tira sua importância, mas tão somente dá a importância que essa história do QI dele merece. Tramontina (jornalista e apresentador) aqui, contribuiu com uma entrevista protocolar”.
Esse foi meu comentário no episódio do podcast que convidou Roger Moreira. Explico…
E vamos lá. No mínimo, será divertido.
Vejo muito nas redes, mas não sei se fazem isso com as letras (em texto), no entanto farei hoje um “react” escrito. (Antigamente chamavam de “publicar um texto”)
A reação será diante do podcast de entrevistas comandado pelo experiente jornalista Carlos Tramontina – Tramonta News – uma das atrações que formam a produtora de conteúdo Flow.
Tramonta News: Jornalista e ilustre convidado de alto Q.I.. Imagem: Youtube
No episódio em tela, seu convidado é o notabilizado músico da banda Ultraje a Rigor, Roger Moreira, e o que vamos analisar, além da própria entrevista, será uma espécie de persistente campanha sobre sua capacidade intelectual atestada por um resultado de alto Q.I. (quociente de inteligência).
Tramontina na sua apresentação já “provoca” com uma pergunta precária – “O rock tem relevância?” – e simplifica uma questão profunda – “Roqueiro tem que ser de esquerda?”.
Mas entendo que ao promover alguns assuntos, um podcast ou o ambiente de questionamentos mais informais, não consegue lidar satisfatoriamente, penso eu, com abordagens mais delineadas que requerem essa discussão. Mesmo assim, fica claro a pretensão da provocante pergunta. Vá lá, Tramontina e cumpra seu novo papel.
(Nas redes, sabe como é que é, né? Tem que despertar as profundezas)
Roger começa falando com precisão sobre muitas bandas nacionais que mudaram suas formações ao longo do tempo e comete imprecisão ao citar Os Paralamas do Sucesso. A banda apesar de ter incluído alguns músicos em sua equipe, mantém sua base original firme.
Mesmo assim, acerta a dizer que “é muito difícil manter a banda junta o tempo inteiro”.
Banda Ultraje a Rigor em uma de suas formações clássicas. Imagem: Divulgação
Nessa ótica, ao falar da falta de “espaço pra todo mundo o tempo todo” já começa a derrapar quando compara a indústria e o público nacional com o dos Estados Unidos, que na sua ótica, sempre continua considerando relevante os artistas antigos (Ele cita Bob Dylan).
Tsc, tsc, tsc. Dou um exemplo fácil de compreender por que Roger erra na seu raciocínio. (Por enquanto não chamarei seu raciocínio de fraco. Aqui tá mais pra – talvez – apressado)
Existe um formato de exibição no Instagram (no sentido de programa audiovisual de rede social) chamado “Track Show”, onde através de uma breve audição “cega”, indivíduos comuns e/ou celebridades são convidados a adivinhar o artista e a música em troca de um prêmio em dinheiro que vai aumentando de acordo com o número de acerto.
Impressionante como por lá, desde jovens até pessoas mais velhas, se mostram eficientes em reconhecer os mais variados artistas da sua própria indústria de entretenimento. (Procure o perfil @trackstarshow e confira)
Experimente fazer isso no Brasil! Na hora que tocarem Joelho de Porco, Walter Franco, Novos Baianos, O Terno ou Quinteto Armorial, a produção já cancela no primeiro episódio.
Sendo sincero, o público no Brasil provavelmente não sabe a diferença entre Francisco Alves e Orlando Silva.
Menos, Roger! (E até aqui na entrevista, nada das “provocações” do Tramontina anunciadas no início)
EUA: De ilustres desconhecidos até celebridades, muitos conhecem suas músicas. Imagem: Track Star Show
O músico também observa com aprovação que os músicos com o tempo vão mudando, amadurecendo (artisticamente), mas logo se gaba de ser uma das poucas bandas com uma formação que não inclui corpos musicais estranhos na banda (teclados, metais).
Ele relata que para isso, o “norte” da banda eram os Beatles – 2 guitarras, baixo e bateria.
Mas realmente preciso lembrar vocês que os rapazes de Liverpool podem ser os campeões de intervenções musicais ao usar orquestras, corais ou instrumentos musicais incomuns ao rock em discos como Revolver, Sgt Peppers e Abbey Road???
A essa altura, a condescendência do Tramontina começa a ficar constrangedora.
Pra minha surpresa aparece uma pergunta que poderia render: “Quando foi a última vez que o Ultraje gravou?”, emenda o jornalista.
Roger reclama do tal mercado que rejeita seu tipo de som, mas pelo menos foi mais sincero dizendo não estar interessado em gravar nada novo. Ainda que a pergunta pudesse sugerir alguma análise mais precisa do músico, ninguém invadiu nenhuma praia, ao contrário, a pergunta morreu na praia.
Tramontina dessa vez provoca… “Poxa, tanto tempo tocado mesma música? Não incomoda?”.
Ponto pra ele. Provocou, mas em sua forma foi afável, recebeu uma resposta igualmente polida. (E o Roger respondeu bem)
Beatles: A banda “norteadora” de Roger muitas vezes acrescentou outros músicos. Foto: Leslie Bryce
Mas aí, nova escorregada. Roger tenta falar de bandas novas, cita Foo Fighters (acho que nessa hora ele tenta puxar pela memória e sai essa) e até sai o Måneskin.
Pra ser mais propositivo poderia ter citado até a antipática banda Greta Van Fleet ou os rapazes do Kings of Leon, mas me parece que se trancar na bolha cultural fez do “ouvinte de rock” Roger, um tradicionalista desanimado (e ignorante).
Em seguida, ao afirmar que o rock do Brasil nos anos 80 foi “uma exceção, pois o brasileiro gosta é de samba e suingue”, o músico paulista ignora definitivamente, toda a Jovem Guarda, período musical fortemente inspirado nos Beatles e nas canções românticas do pop rock estrangeiro (norte-americano, inglês e italiano) que influenciou até a produção televisiva com programas dedicados ao estilo.
Um ato falho cometido por Roger ao dizer “O rock que eu fazia… Quer dizer, faço ainda” demonstra claramente seu descompromisso com a coerência, portanto se explica tanta incoerência como as ditas acima.
Coerência essa que também falha bastante ao colocar a culpa na atual decadência artística (comum em qualquer período e em qualquer lugar) na MTV, um dos projetos mais ousados que uniu música e audiovisual. (Por aqui, já perdendo um pouco da paciência)
Em certa altura, ouvimos o entrevistado dissertar sobre cultura, alegando que muitas vezes o povo brasileiro não recebe doses corretas de “boa cultura”, e que essa oportunidade vem sendo negada ao longo do tempo. Obviamente que isso apontaria a discussão para a afamada (e cansada) hipótese do “pão e circo”.
Culpa da MTV?: O estilo e abordagem da TV jovem só inovou a linguagem televisiva. Imagem: Metrópole
A lógica do pão e circo existe para “manter o povo ignorante pra poder controlar”, disse o artista tentando combater a famigerada indústria cultural, ao mesmo tempo que possui músicas de sucesso compostas por ele que vão desde abertura de novela até propaganda de chocolate.
Como diria um contemporâneo seu, “a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerante”. Roger aí fica completamente nu com a mão no bolso.
Na minha análise, a entrevista desanda seriamente quando mais uma vez, numa outra tentativa de “provocar”, Tramontina sugere o assunto dos grandes shows patrocinados por prefeituras de cidades pequenas que pagam cachês astronômicos. Sim, assunto sério.
Os dois giram ao redor da cauda e nada de relevante é discutido. Uma acusação velada sobre “turminhas” ou panelinhas adeptas da prática, mas nenhuma observação séria sobre a trupe de sertanejos ou forrozeiros que abusam do dinheiro público.
Mas um dos pontos mais curiosos da entrevista é quando falam de “jabá”, aquele procedimento de pagar a rádio, o radialista ou disc jockey (DJ) pra tocar a “música de trabalho” do artista, algo que podemos chamar de imoral, mas que nunca foi considerado ilegítimo.
(Um Projeto de Lei foi sancionado em 2006, mas gostaria que alguém me apontasse alguém no Brasil preso por esse crime)
Roger se demonstra um opositor da prática.
Agora vejamos. Sendo Roger um “liberal na economia”, que raios de raciocínio é esse?
Quer dizer que ganha a gravadora, ganha o artista, mas não ganha o meio de popularizar a arte musical produzida pela cadeia anterior (artista e gravadora)? Que diabo de pensamento liberal é esse?
Tá lá o dono (concessão) da rádio, o(a) radialista que com sua audiência e talento atrai os ouvintes e eles ficam só com o trabalho de divulgar e não ganhar nada?
Nem estou dizendo que jabá é bom ou ruim, só observo as contradições. Vamos forçar esse QI dinâmico a trabalhar, caríssimos.
Extra: Será que Roger dividiu esse cachê com os amigos músicos que o ajudaram a ser famoso? Imagem: G Magazine
Aos 44 minutos, Tramontina, depois de perguntas e observações estritamente protocolares, chega aonde tanto deseja: falar de cultura e política.
Na verdade falar de política, pois aparentemente até àquela altura, tanto ele como Roger não conseguiram expor qualquer pensamento real que pudesse discutir seriamente a cultura.
Então somos apresentados ao ente político Roger Moreira, que nada mais é – na minha compreensão – do que um amontoado de teorias conspiratórias, obviedades discursivas, lições aprendidas nos vídeos e livros de Olavo de Carvalho, além de noções incompletas sobre conservadorismo clássico.
Para começar, me deixou surpreso Roger dizer que não sabia (na sua juventude) o que era “esquerda” ou “direita” no âmbito político. Questionei seriamente seu QI elevado.
Mais uma vez, comparando o Brasil com os Estados Unidos, o grau de severidade eleva quando o músico do (com) Ultraje, sem medo de estimular suas convicções, profere uma notícia comprovadamente falsa, dizendo que no “governo esquerdista” da Califórnia (EUA) é permitido roubar até 950 dólares.
E o apresentador Tramontina? Diante de sua audiência, o jornalista nem reage à séria imprecisão do músico.
Roger meteu uma fake news na entrevista que nem tremeu o rosto. Imagem: UOL
“No Brasil, na década de 70 era fácil ser do contra”. Não acreditei ouvir mais essa do músico.
“Se o regime militar não tivesse matado nem torturado ninguém seria difícil falar mal dele. Porque teve muito progresso naquela época”, também foi outra afirmação bastante enviesada dita por Roger, e quem escuta assim, simplificada e mal analisada, pode pensar estar ouvindo uma verdade absoluta.
Além do mais, sobre o período autoritário da ditadura, não seria sensato (no mínimo) pronunciar algo nesse sentido como uma verdade conclusiva. (Nesse ponto, pensei estar diante de uma verdadeira “viúva” da ditadura)
A partir do anos 1930 até a década de 1980, sem dúvidas, o Brasil cresceu bastante, e isso pesquisadores e estudiosos nos demonstram, mas lembrem-se que o regime militar quando entregou o país, a inflação anual era de três dígitos e em 1982 tivemos uma recessão relacionada com a dívida externa.
O Brasil simplesmente não possuía reservas econômicas no Banco Central, segundo Affonso Celso Pastore quando assumiu sua presidência à época em 1983. (Não vou falar aqui dos casos de corrupção no governo militar)
Sociedade secreta: O grande segredo é a comprovação de seu alto QI. Imagem: Inteligência LTDA
Então paro por aqui, mas teria bem mais. Essa análise não tem a menor intenção de desrespeitar quem quer que seja, mas tão somente fazer uma análise com base em observações que, sem obrigações, venho fazendo há algum tempo sobre essa questão na vida dos famosos. (Meu sonho é ser fofoqueiro celebridade!)
Roger é burro? Claro que não! O que quero salientar é que ele tem uma inteligência mediana – bem longe desse QI alto que tanto anuncia – que se mistura com seu indiscutível talento para fazer suas composições.
Nessa entrevista suas metáforas são pobres, referências e citações medianas (respeitosas, mas óbvias), carece de coerência e não demonstra nenhum talento especial ou natural.
Tramontina diz no podcast: “Eu nunca tinha visto essa capa!”. Simplesmente não acreditei. Capa: Warner
Quanto ao jornalista Tramontina, parabenizo pela mudança que agora alcança outro público nas redes, mas até o tradicionalíssimo Mario Sérgio Conti provoca mais e melhor. O jornalismo tradicional segue patinando pra encontrar seus caminhos na internet.
Bem, se você possui fatos ou evidências que comprovem os resultados do teste de QI de Moreira, ficaria muito satisfeito em conhecê-los, até se necessário, escrever um outro texto como uma espécie de reparação à possibilidade do equívoco.
Mas ainda assim, afirmo que ele não deve satisfações a mim ou a quem quer que seja sobre esse ou outros assuntos. E a ele, eu só devia essa análise e nada mais. (Lá em cima falei que seria divertido, mas isso não quer dizer que foi fácil!)
Nesse sentido e por último, quero lembrar também que não é função de um jornalista convidar alguém para uma entrevista para ofendê-lo ou desrespeitá-lo. Existem regras e decoro. Mas não posso deixar de lembrar de uma “piada” feita por Roger Moreira sobre uma criança estuprada. Lamentável. Esse fato gravíssimo não foi citado na entrevista.
Nessa entrevista pude sentir o desprezo que o youtuber Igor 3k (Flow) tem com o jornalismo oficial. Imagem: Youtube
Triste mesmo deve ser para outro músico – esse sim – que sempre demonstrou ter inteligência bem acima da média: Lobão. (Quer você goste ou não. Eu mesmo acho pavoroso)
Já escreveu bons livros, tem sucessos musicais nacionais, dá (algumas) boas referências, anda acompanhado de alguns pessoas estudiosas – isso não quer dizer que sejam intelectualmente honestas – e discute com argumentos mais fortes.
A partir disso, vamos tentar chamar as coisas pelos nomes que elas merecem.
No caso Roger, Q.I. é qualida… ops… Q.uantidade I.nferior que ele demonstra. (HD)