Da Redação, com informações da Ascom Seduc
Um grande problema de saúde, as fortes dores e um tratamento em outro estado poderiam ter tirado a força de vontade da dona Domingas dos Santos, de79 anos. Impedida de estudar durante a juventude, hoje dona Domingas vence todos os desafios e, mesmo em sua cadeira de rodas, ela não perde as aulas do PROAJA (Programa de Alfabetização de Jovens, Adultos e Idosos) com o objetivo de aprender a ler e escrever.
“Há mais de 50 anos enfrento o reumatismo em alto grau, tenho muitas dores, mas até esqueço dos problemas quando estou junto com a turma aprendendo a ler e a escrever. Tenho esse sonho e estou começando a realizar. Gosto de fazer receitas e quero ler para fazer outros tipos de bolos e comidas para a minha família. Aqui a professora tem muita paciência, nos ajuda muito e vai até a minha casa dar aulas quando eu não consigo vir até a sala de aula”, contou a alfabetizanda.
Na turma do PROAJA coordenada pela Obra Kolpi, no bairro Taquari, zona leste de Teresina, outro sonho começa a ser realizado. É o da dona Maria de Lourdes Lima. Aos 64 anos, ela começa a ter intimidade com as letras e desenhar no papel os seus objetivos. Ela, que trabalha como doméstica, após um longo dia de trabalho, se dirige à sala de aula para aprender a ler e escrever. “Eu sempre quis estudar e nunca pude, pois tive que trabalhar muito cedo. Com esse projeto eu quero aprender a ler e avançar cada vez mais nos estudos, eu não vou parar e quero um dia me formar. Meu filho está muito orgulhoso de mim e se emocionou quando eu me matriculei. Tenho uma rotina cansativa, mas aqui nas aulas eu aprendo e me divirto também, já conheço as letras e isso é um sonho se tornando realidade”, afirmou dona Maria.
Com o objetivo de dar oportunidade àqueles que não tiveram acesso aos estudos na idade certa, o PROAJA chega às mais longínquas comunidades no Piauí.
Com o objetivo de levar cidadania, por meio da educação, o PROAJA chega às mais longínquas comunidades. Atualmente o programa conta com 10.742 turmas em todo o estado e mais de 155 mil estudantes, os quais já começam a sair da linha do analfabetismo e transformar a suas vidas por meio do conhecimento.
Aos 79 anos, e às vésperas de completar 80, Raulino dos Santos finalmente trocou a enxada, a foice e demais instrumentos da lavoura pelo lápis e caderno. Trabalhando nos campos desde os oito anos de idade, Raulino viu os seus sonhos se esvaírem ao longo dos anos. “Meu sonho era ser caminhoneiro, sempre quis dirigir carros grandes e sair pelo mundo, pelas estradas, mas meu pai não me deixou estudar e sem saber ler e escrever, não tem como tirar a habilitação para dirigir. Agora estou aqui querendo aprender as letras e enxergar esse mundo novo do conhecimento. Tudo que a gente aprende é bom e vale para a vida, estou me esforçando e vou conseguir, nunca é tarde”, explicou o alfabetizando mais velho de sua turma.
Metodologia de ensino
Para Francisca da Costa, pedagoga e professora do PROAJA, o processo de alfabetização de adultos e idosos é muito diferente do processo de educação infantil. Segundo ela, é necessária a utilização de uma pedagogia especializada.
“As pessoas que já adentraram à sala de aula depois de uma idade avançada precisam de uma atenção especial. Eles já vêm com a mente cansada e, muitas vezes, desacreditados do seu potencial. Aqui utilizamos os métodos de Paulo Freire, introduzimos o conhecimento utilizando coisas do cotidiano, da cultura deles, assim trazemos temas próximos de suas realidades e trabalhamos a alfabetização a partir disso. Para mim é gratificante trabalhar com eles, auxiliá-los nesse recomeço, na retomada do conhecimento. O PROAJA é uma ação de suma relevância, pois transforma vidas e resgata sonhos. Eu acredito nesse programa”, afirmou a professora do PROAJA.
Francisca acompanha de perto os 14 alunos de sua turma. Diariamente ela os reúne e faz questão de acompanhar os idosos até a sala de aula. Aos sábados ela vai até a casa dos alunos repor as aulas que eles perderam na semana.
“A educação é transformadora e o PROAJA é sinônimo de cidadania, por isso eu me dedico a esse trabalho, porque vejo resultados reais”, concluiu a pedagoga.