Nem todo dia somos surpreendidos por uma crítica (jornalística) bem-humorada, inteligente, sensível e sem medo de reconhecer as qualidades que artistas ou um espetáculo local podem ter. (E se soubessem do que ocorre nos bastidores, a admiração aumentaria bastante)
Hoje vou simplesmente compartilhar com vocês o texto dessa crítica de autoria do historiador e quadrinista Bernardo Aurélio.
Compreendendo que Bernardo pertence ao mundo das artes quadrinísticas – criação, roteiro e desenhos – e sua formação acadêmica é de historiador, nada mais justo que a junção de seus talentos o faça dominar bem a arte da escrita, mas olha que o cara escreveu de forma mais competente do que a maioria dos jornalistas que por aqui escrevem quando falam de cultura. Mais um ponto pra ele. Segue seu texto…
Bernardo Aurélio: Texto jornalístico com sua grife de historiador e quadrinista. Foto: Divulgação BPE
Ok, não é nenhuma novidade uma banda de rock tocando cover de Beatles. Também não é assim raro uma orquestra acompanhar uma banda de rock. Contudo, nunca é demais e nem podemos ignorar quando coisas assim acontecem em Teresina.
Não faz muito tempo, a Orquestra Sinfônica de Teresina (OST) tocou com Edu Falasch (ex-Angra, ex-Almah) num grande festival de música (Piauí PoP). A própria OST, não raramente, executa canções do repertório popular, como temas de cinema ou desenhos animados, como vimos acontecer recentemente no aniversário de Teresina.
Portanto, podemos dizer que a música piauiense, nos últimos anos tem colecionado momentos assim, e o último deles foi o encontro da Orquestra e Coral da UFPI com o conjunto de roque Os Radiofônicos, que aconteceu dia 29 de setembro, no SESC Cajuína.
Foto: Maria Catiany
O palco estava, literalmente, muito pequeno quando o “GUITARRISTA!” começou os primeiros acordes de Day Tripper, afinal de contas havia 2 baterias, dois teclados, vários instrumentos de cordas e percussão e se não fosse o suficiente, entraram mais de 20 mulheres no coral junto a meia dúzia de homens. Henrique Douglas, o vocalista da banda Os Radiofônicos, mal conseguia caminhar entre os músicos para conseguir alcançar a linha de frente do palco.
Henrique Douglas, que por sinal, era a criança mais feliz com aquele enorme brinquedo novo, uma “superbanda” composta por dezenas de músicos em torno de uma única paixão (que, na verdade, eram 4): John, Paul, George e Ringo. Era visível que o cantor estava se divertindo muito e queria prolongar aquela noite o máximo possível, mediando toda a postura clássica que uma orquestra precisa ter com a irreverência colorida da sua banda, desde suas calças listradas (e antigas) até o terno vermelho do baterista.
Foto: Maria Catiany
O auditório do Sesc ficou lotado, imagino que tinha algo perto de 500 pessoas. O preço estava convidativo, apenas R$20 a inteira e R$10 a meia. Menos que você gastaria se fosse ao cinema e, convenhamos, não dá pra comparar uma sessão de cinema com a experiência única de assistir uma orquestra, coral e banda tocando Beatles com toda a energia vibrante que aquelas músicas merecem, em um espaço de grande qualidade técnica e conformo como o que o SESC oferece.
Para finalizar, para não dizer que estamos falando de apenas mais um tributo ou elogio aos 4 garotos de Liverpool, para não ser apenas mais uma homenagem como tantas outras, foram executadas duas músicas autorias dos Radiofônicos. Quer dizer, eu não conheço outro exemplo de banda de roque piauiense acompanhada por Orquestra e Coral executando suas músicas (corrijam-me se estiver enganado!). Portanto, acredito que ontem a noite tivemos um parágrafo digno de nota para a história da música local ou, pelo menos, a grande noite na história do conjunto Os Radiofônicos.
Foto: Maria Catiany
Henrique Douglas era só alegria quando anunciou que “Você não presta” seria uma música de George Harrison teria gravado em português anos atrás, quando teria conhecido o Brasil. O vocalista não se preocupou em desmentir a brincadeira e executaram o ponto alto da noite, pelo menos, em minha opinião. Voltando pra casa, eu não cantarolava “Twist and Shout”, “Help” ou “Let it be”. Minha cabeça era apenas: “Ei, você aí, não presta!”. (BA)