Ontem foi o Dia do Folclore, e claro, é sempre bom festejar o boitatá, o boto-cor-de-rosa, a iara, o saci, mula sem cabeça, e claro, algumas outras tradições que são menos sobrenaturais e mais do cotidiano ordinário.
Quero manifestar um sucinto entendimento sobre a definição de folclore para que possamos prosseguir: uma manifestação da cultura, tradição ou superstição popular relacionada à identidade de uma comunidade, de um povo ou de uma sociedade.
Mas qual ou quais seriam as diferenças entre lendas folclóricas e lendas urbanas? Será que há uma distinção entre a tradição da oralidade e o ancestral talento natural de contar histórias com o processo moderno de industrialização da notícia?
Algumas lendas do folclore nacional: Curupira, iara, saci e mula sem cabeça. Autor: Maurício de Sousa
Suspeito que a oralidade pode ter uma ligação com os antigos e primitivos medos humanos, como o medo dos fenômenos naturais, da floresta, da morte e do desconhecido, enquanto a lenda urbana parece ter mais semelhanças com os processos de criação de teorias conspiratórias para tentar explicar o incompreensível.
Mas vou falar do fantástico. Folk (povo) e Lore (história/conhecimento) revelam a etimologia.
Usando separadamente os termos acima, não à toa, o subgênero Folk Horror tem em suas raízes histórias ligadas à tradição dos POVOS, assim como a (curiosa) série Lore apresenta exatamente isso: HISTÓRIAS fantásticas sobre um determinando povo ou região.
Instigante: A série Lore trata de tradição e histórias sobrenaturais. Cartaz: Divulgação
Com tudo isso, minha intenção é chamar sua atenção para uma recente série em cartaz na Netflix – uma produção indonésia – e que de tão bem acomodada segue sem muita percepção dos espectadores: “Pesadelos e Devaneios de Joko Anwar”.
A Tailândia e a Indonésia vêm investindo muito no audiovisual, principalmente nos gêneros de suspense e terror. E a quantidade de filmes e séries correspondem com a qualidade.
O (recente) suspense “Fronteira Sombria” (Indonésia/ 2024) e o (extraordinário) terror “A Médium” (Tailândia/ 2021) comprovam isso. (Moçada, A Médium é sem sobra de dúvidas – sombra ou sobra, dá no mesmo – uma das melhores coisas do gênero ao lado do argentino O Mal Que Nos Habita)
Folclore tailandês: Assustadora tradição espiritual. Cartaz: Divulgação
Em Pesadelos e Devaneios temos uma série em formato de antologia – episódios que contam uma história completa – que contam desde abandono de idosos, crianças com habilidades excepcionais, abduções, violência psicológica e objetos voadores não identificados.
Mesmo distintas, há alguma afinidade entre essas histórias indonésias e uma outra série “O Gabinete de Curiosidades de Guillermo del Toro” que também conta em forma de antologias, outras histórias fantásticas. (“O Gabinete” também é muito bom!)
Episódio com maternidade e ganância: Criança dotada de poder. Folclore ou lenda urbana? Cartaz: Divulgação
Se o mexicano del Toro parece tratar suas histórias como se viessem da literatura gótica, o indonésio Anwar parece contar lendas urbanas, portanto, uma espécie de folclore de seu país. Foi isso que senti e isso foi muito bom.
Ao assistir a série indonésia, me recordei da TV Record quando exibiu uma de suas pouquíssimas produções que merecem desbragados elogios: a série especial chamada “Terrores Urbanos” e que trata exatamente de algumas de nossas famosas lendas urbanas.
TV Record: Enfim, a produção audiovisual da emissora, acerta. Cartaz: Divulgação
Como algo se transforma em lenda urbana? Não sei… Só sei que foi assim. (HD)