fonte: da redação
Em apoio à campanha “Janeiro Branco”, a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) desenvolveu uma série com três reportagens abordando a importância de cuidar da saúde mental. A iniciativa visa promover a conscientização e convida seus profissionais, preceptores, acadêmicos e pacientes atendidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS) a refletirem sobre o cuidado com o bem-estar emocional. Confira a primeira reportagem!
Os sinais de alerta para buscar ajuda
No cenário pós-pandemia, a importância da saúde mental tem sido cada vez mais evidente. Mas como saber quando algo precisa ser tratado? Para o psiquiatra Bernardo Dias Cechella, do Hospital Universitário de Santa Maria, da Universidade Federal de Santa Maria (HUSM-UFSM), existem sinais claros: “Insônia, incapacidade de descansar, alterações súbitas de humor, esgotamento que ocorre de forma persistente, sentimentos de incapacidade de realizar as tarefas cotidianas, ansiedade intensa de início recente, recorrente ou persistente, notada pela própria pessoa ou, muitas vezes, por pessoas próximas a essa, são alguns dos principais alertas”.
Assim, destaca o psiquiatra, “buscar a manutenção do equilíbrio entre o ritmo de trabalho acelerado, a carga horária frequentemente elevada no cotidiano da sociedade moderna, que leva ao estresse e ao esgotamento profissional, tornou-se um desafio”. E continua: “Deve-se, para isso, observar os limites individuais, reservando tempo para a realização de atividades físicas ou esportivas regulares, cultivar os momentos de lazer e a desconexão temporária das notificações de mídias digitais que chegam a todo momento”.
Uma alimentação diversificada, com ingestão adequada de água, proteínas, vegetais e carboidratos, é importante para o bom funcionamento do organismo e do cérebro. Nos aspectos social e psíquico, cultivar amizades e o espírito de cooperação tanto no trabalho quanto fora dele podem contribuir para a saúde mental. “E, se mesmo executando essas modificações de hábitos de vida, ainda assim, persistir algum desses sinais exemplificados, certamente será válido buscar auxílio de um psiquiatra para melhor determinar o tratamento”, completa o médico.
Principais problemas de saúde mental na atualidade
Especialistas do Hospital Universitário Antônio Pedro, da Universidade Federal Fluminense (Huap-UFF), a psicóloga Andréia Fontoura e a psiquiatra Thábata Luiz relatam que os transtornos mentais têm se tornado um dos principais desafios na área da saúde.
Os dados do Informe Mundial de Saúde Mental (OMS, 2022) mostram que os transtornos mentais afetam quase um bilhão de pessoas, incluindo 14% dos adolescentes. Desigualdades sociais e econômicas, crises de saúde pública e mudanças climáticas são ameaças globais à saúde mental. Além disso, a OMS aponta que a depressão será a doença mais prevalente até 2030.
No Brasil, características demográficas e econômicas, como a rápida urbanização, a entrada das mulheres no mercado de trabalho sem apoio adequado à maternidade, as crises econômicas e a precarização do trabalho têm sido apontadas como fatores para o aumento da incidência e persistência dos transtornos mentais. “Podemos dizer que a saúde mental de uma pessoa está relacionada à forma como ela enfrenta as exigências do dia a dia, sendo atravessada pelo modo de vida e pelas diversas situações vivenciadas ao longo de sua história”, explicou Andreia Fontoura.
Os limites entre expectativa e ansiedade, e entre tristeza e depressão
Segundo a psiquiatra Thábata Luiz, a ansiedade é uma reação normal e adaptativa de proteção manifestada pela antecipação de um perigo real ou imaginário. Geralmente, desencadeiam sintomas físicos, pensamentos de dúvida e comportamentos evitativos. “Só passa a ser patológica quando exagerada e desproporcional em relação ao estímulo e quando interfere na qualidade de vida do indivíduo”, esclareceu.
Os sintomas de ansiedade podem ser uma manifestação primária dentro dos quadros chamados Transtornos de Ansiedade ou podem ocorrer secundariamente ao uso de drogas ou abstinência de substâncias.
A especialista diferencia a tristeza como uma emoção básica e experienciada diante de situações negativas da vida, enquanto a depressão é considerada uma doença que resulta da interação de diversos fatores: genéticos, neurobiológicos, psicológicos e sociais. Os sintomas são mais intensos e duradouros, estendendo-se por mais de duas semanas, e causam prejuízo clinicamente significativo no funcionamento psicossocial do indivíduo.
Além da tristeza, a depressão está associada a outros sintomas como anedonia (perda da satisfação), desânimo, alterações de apetite e sono, fadiga, dificuldade de concentração, baixa autoestima, ideias de culpa e pensamentos negativos. “Enquanto a tristeza é temporária e não requer intervenção medicamentosa, a depressão deve receber tratamento especializado que, muitas vezes, será a associação da psicoterapia com psicofármacos e mudanças de estilo de vida”, alertou Thábata.
Quanto dura um luto?
A psicóloga e chefe da Unidade de Saúde Mental Huap-UFF, Tânia Ventura, e Thábata Luiz, explicam que o luto não se trata de uma doença, mas sim de um processo natural de resposta a um rompimento de vínculo. Cada pessoa vive o luto de maneira única, pois não existem relações idênticas.
Esse processo de adaptação pode levar semanas, meses ou até anos. “Quando as reações comuns diante da perda se intensificam e se tornam mais presentes em vez de serem absorvidas, a sensação de melancolia torna-se constante, há uma preocupação intrusiva com o morto, evitação e falta de sentido no futuro, as tarefas diárias são deixadas de lado e a vida do enlutado se resume à ausência de quem se foi, ou quando o indivíduo apresenta pensamentos suicidas e autodestrutivos, é indispensável uma avaliação especializada, pois podemos estar diante de um transtorno mental”, salientam as profissionais.
Em 2022, o Transtorno de Luto Prolongado foi oficialmente reconhecido como um transtorno mental e incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID-11). Esse transtorno ocorre quando o luto persiste por pelo menos seis meses, acompanhado de intenso sofrimento e prejuízo funcional, juntamente com um desejo persistente ou preocupação com o falecido. “É quando o enlutado não consegue fazer movimentos de restauração”, ressaltou Thábata Luiz. Vale lembrar que o sofrimento pode ainda extrapolar a temática da perda e estarmos diante de um quadro de depressão.
O Huap-UFF oferece um trabalho de acolhimento aos familiares enlutados, por meio da equipe do Serviço de Psicologia da USME, que foi implementado na pandemia de covid-19 e integrou-se à rotina de cuidados da instituição. Essa intervenção inclui um espaço de escuta e a entrega da Caixa de Memórias, que poderá auxiliar no processo de elaboração da perda. Além dessa iniciativa, diversos hospitais universitários federais (HUF) vinculados à Ebserh disponibilizam serviços de assistência psicológica aos pacientes internados e seus acompanhantes, bem como atendimentos ambulatoriais voltados para a saúde mental.
Na próxima matéria da série “Mente sã, corpo são”, será abordada a saúde mental em crianças e adolescentes. Não perca!
Sobre a Rede Ebserh
Vinculada ao Ministério da Educação (MEC), a Ebserh foi criada em 2011 e, atualmente, administra 41 hospitais universitários federais, apoiando e impulsionando suas atividades por meio de uma gestão de excelência. Como hospitais vinculados a universidades federais, essas unidades têm características específicas: atendem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) ao mesmo tempo que apoiam a formação de profissionais de saúde e o desenvolvimento de pesquisas e inovação.