Podemos encarrar a nova série “Eric” como um documento histórico disfarçado de entretenimento (drama + true crime), e digo isso como elogio, ok?
A minissérie acaba de estrear na Netflix, tem seis episódios, se passa na metade dos anos de 1980 e é uma interpretação vívida desses tempos, conduzida por uma intrigante trama de investigação.
Na história temos um problemático e bem-sucedido criador de bonecos para programa infantil chamado Vincent (Benedict Cumberbatch), sua esposa Cassie (Gaby Hoffmann) e o filho de nove anos do casal chamado Edgar (Ivan Morris Howe) que vai desaparecer misteriosamente.
Drama e mistério: Casamento em crise e filho desaparecido. Imagem: Divulgação
O que vamos testemunhar daí em diante é a desintegração dessa família, traumas expostos, confrontos e traições e um número crescente de mistérios sobre o desaparecimento de Edgar, e que se mistura com outro recente sumiço de uma criança negra.
O caso do(s) desaparecimento(s) fica(m) sob a investigação de um policial (um excelente McKinley Belcher III), outro personagem com suas cotas de segredos e revelações e que arrasta com ele nessa angustiante investigação, nós os expectadores.
Se de um lado temos um policial comprometido com sua missão de descobrir o que houve com as crianças, do outro teremos o peso da culpa de um pai que em meio ao seu transe traumático, resolve criar um novo boneco (o monstro Eric) na esperança de trazer seu filho de volta.
Policial dedicado: Corrupção e crise na polícia impedem a investigação. Cartaz: Divulgação
Todo o cenário em volta é formado pela guerra às drogas iniciada em 1982 nos EUA sob a presidência de Ronald Reagan, caos econômico, corrupção policial, o avanço de doenças sexualmente transmissíveis e/ou por compartilhamento de seringas (Aids/HIV) e uma epidemia do destrutivo crack.
Isso torna tudo bem mais perturbador diante do drama que se instala com o desaparecimento das crianças.
A reconstituição de época, assim como a qualidade da dramaturgia (de todos na órbita dos protagonistas) e da narrativa merecem elogios.
Vida real: Nova York e seu metrô sujo e decadente nas décadas 1970/1980. Foto: Willy Spiller
Em “Eric”, enfrentamos um suspense que vai elevando seu tom gradualmente e que também nos traga para um perverso labirinto paranoico (com toques de realismo mágico) formado ao redor de um pai desesperado.
Apesar de que seus tópicos e abordagens sejam inspirados em fatos de nossa realidade, a história em “Eric” é ficcional.
Um pai desesperado e seu amigo imaginário (Eric) tentando salvar uma criança. Imagem: Divulgação
Mas com, e em “Eric”, esse monstro colorido, vamos juntos (profundamente) para o coração de um mundo obscuro numa Nova York dos anos 80, e que pode ser qualquer lugar em algum canto desse mundo de monstros reais, sombrios e, diferentes de Eric, descoloridos. (HD)