“De boas intenções o inferno está cheio”, diria o precavido, crédulo ou não, apenas usando uma frase do linguajar popular para um fácil entendimento.
Não… De uns tempos pra cá não indico qualquer livro (ou todo livro), visto a ignorância que assola nossas ideologias (ou fanatismo, como é na maioria dos casos). Dito isso, permito a invasão da alegria.
No último dia 23 de abril comemorou-se (e se comemora) o Dia Mundial do Livro.
E agora falando com melhores propósitos, digo que não compartilho todo ou qualquer livro por uma simples precaução. Apesar de não saber exatamente o perfil de meus leitores (por favor, se manifestem para que eu possa saber mais), não os tomos por mim. E nem devo.
Dicas carinhosamente escolhidas para compartilhar. Imagem: Acervo Pessoal
Como ajo? Bem… Leio tudo que possa estar no meu escopo de interesse, assim como penso ser importante para formação de um promovedor – não promulgador, ok? – de ideias.
Apesar dos riscos, também me ocupo com a preocupação de não colocar sandálias em pés alheios sem saber sua pontuação, tipo, vincular meu processo de aprendizado com os da minha querida plateia, que certamente pode ter gostos opostos ou pensar bem diferente de mim.
Mas como disse, é risco que se corre e estou disposto. E era só isso, e vamos lá então comemorar esse abril para os livros com essas carinhosas e caridosas dicas:
Direita e Esquerda na Literatura (Alfonso Berardinelli)
Essa semana ouvi um polemista (competente) declarando que nesses últimos tempos, e o culpado por isso foi a “nova direita” e a figura do Pondé, transformaram Nelson Rodrigues em um singelo “reacionário de almanaque”.
Falou ainda de escritores como Alceu Amoroso Lima e Gustavo Corção (conservadores, mas Alceu também foi comunista) e de como autores mais desconhecidos como Cornélio Penna (A Menina Morta) ou Cardoso (Crônica da Casa Assassinada) podem ser bem melhores. (Foi só pra dar um tempero!)
Nesse breve livro de ensaios, podemos dar alguns pequenos saltos em direção ao entendimento da função do intelectual na literatura e suas discussões. Claro que por muitas vezes é indivisível as questões ideológicas do autor.
O conteúdo tem um tom mais elevado em seus princípios, mas confio que você possa fazer bom uso dessa leitura. Capítulos como “Três Tipos de Intelectuais”, “Escritores e Política” e “Pós-modernidade e Neovanguarda” lhes aguardam.
De Fato e De Ficção (Gore Vidal)
Vidal não tinha moto, mas era sensacional! (Sim, eu sei que na música é VITAL.)
Entre muitas coisas, foi roteirista de cinema – o premiado Ben Hur (1959); o político The Best Man (1962); o escandaloso Myra Breckinridge (1970) – ativista político, dramaturgo, exímio provocador e um dos escritores mais respeitados dos EUA.
Fui convidado a conhecer o escriba através do documentário “Best of Enemies”, a história de uma peleja intelectual contra seu oponente William Buckley durante a convenção dos partidos Republicano e Democrata nos EUA em 1968.
Houve um tempo que você parava e ouvia intelectuais de espectros ideológicos diferentes. Cartaz: Divulgação
Antes já havia possuído do autor, “Criação”, uma dica de algum jornalista (não lembro quem) que por falta de tempo não comecei, mas ao mesmo tempo cheguei até “De Fato e De Ficção: Ensaios contra a corrente” que decidi encarar por se tratar de ensaio – sempre mais fáceis de ler.
Bom humor e originalidade sobre literatura, política, sexo e cinema. Um passeio histórico e geopolítico, visto que Gore centra sua pena no seu meio intelectual. Uma prazerosa aula.
O Brasil dos Gringos: Imagens do cinema (Tunico Amancio)
Primeiro, não perca a oportunidade de assistir “Olhar estrangeiro”, documentário de Lúcia Murat. (Baseado nesse livro que vos trago). Tá completinho no youtube.
Uma demonstração de como cineastas, roteiristas e artistas internacionais enxergam nosso querido Brasil. Como se não tivéssemos nossas culpas a espiar!!! (Gente… Espiar com letra essi mesmo. Faz parte da piada cínica. Tenho que explicar?).
Documentário: Veja o que os estrangeiros (ainda) pensam de nós. Cartaz: Divulgação
Até hoje vejo no cinema moderno, personagens citarem o Brasil como rota de fuga, busca por diversão fácil ou uma selva exótica. Somos tudo isso sim, mas não só isso…
Vai lá dizer pra eles…
Especulações Cinematográficas (Quentin Tarantino)
Tarantino é uma enciclopédia. Apaixonado por filmes, até diz que não foi à escola de cinema, foi mesmo ao cinema.
Ainda assim, aqui ele faz um recorte e dá uma aula de cinema. Suas críticas e especulações (ousadas, mas ele tem esse poder) desafiam as regras já demonstrando que não estamos numa escola tradicional.
O amor bandido e controverso em Os Implacáveis (1972) analisado por Tarantino. Imagem: Divulgação
Observa, desafia, critica, elogia e dentro de todos esses movimentos, através de sua viagem cinematográfica, desperta em nós uma vontade de rever muitos filmes importantes da cinematografia mundial. Luz, olhos, ação!
Quando Os Pássaros Voltarem (Fernando Aramburu)
Magnético. Essa é a palavra que pode distinguir minha relação com esse livro. Comecei e não conseguia parar. E comecei sem poder começar, pois estava comprometido com outras leituras obrigatórias. Não pude evitar. E olha que são mais de 500 páginas.
Apesar do tema principal ser a morte (mas são várias subtramas!), me diverti com o cinismo, a astúcia e inteligência da pena do autor. Dificilmente parava de rir com essas qualidades. Maior número de risadas entre pequenos espaços de páginas.
O professor de história da filosofia chamado Toni está de saco cheio do mundo e decide marcar local e hora de sua morte auto infligida. Embarcamos na sua contagem regressiva até o fatídico dia.
Aramburu: Escrita afiada do autor espanhol deixa o leitor grudado no livro. Imagem: Acervo Pessoal
Sua jornada ao lado de sua esposa que um dia foi apaixonada, o amigo misantropo e obcecado pela morte, aventuras sexuais, o filho com diminutos atributos intelectuais e um desprezo respeitoso pela raça humana expõem episódios amorosos, conflitos familiares e superações humanas, e dessa forma, vamos nos impressionado com a comédia humana. Eficaz.
Horror Unmasked – A History of Terror From Nosferatu to Nope (Brad Weismann)
Conheço alguns manuais básicos sobre a história do cinema fantástico clássico, mas reconheço aqui perfeita objetividade e boa cobertura. Objetividade e cobertura porque leva ao conhecimento momentos históricos fundamentais e títulos importantes do gênero.
E ainda que seja, digamos, uma espécie de cartilha para iniciantes, vai fundo quando apresenta filmes basilares, mas infelizmente sem destaque na crítica especializada e organiza de forma cronológica o nascimento e o apogeu dos filmes de terror (Além dos momentos de decadência).
Cinema: Manual do gênero nos transporta até filmes mais recentes. Imagem: Acervo Pessoal
Leitura divertida para amantes da sétima arte, dos filmes de terror e um guia nota 10 para fazer sua lista de filmes. Importado, mas chega fácil aqui no Brasil. Para quem lê em inglês. (HD)
Ps: E não jogue livros no lixo. Dona Florinda saberia o que dizer…
Caro Henrique Douglas, tudo bem?
Este foi, sem dúvida, até agora o melhor texto que li seu.
Escreveu como quem brinca com o brinquedo preferido. À vontade.
Parabéns.
Anotei alguns livros inspirada nos comentários.