
Fotos: Marconni Lima
O Dia do Psicólogo é comemorado em 27 de agosto desde 1962, período em que João Goulart, então presidente do Brasil, regulamentou a profissão no país sancionando a Lei n.º 4.119, que dispõe sobre a profissão e os cursos de Psicologia. A data ficou marcada e se tornou oficialmente o Dia do Psicólogo em 2016.
A palavra Psicologia vem do grego – psique (alma) e logos (estudo) – o estudo da alma humana. Representada pelo símbolo do tridente, que possui relação com a letra psi do alfabeto grego, essa ciência surgiu no século XVI, buscando compreender os indivíduos, suas angústias e inquietações.
Daquele tempo até os dias atuais, a área cresceu muito e criaram-se várias vertentes, com profissionais especializados em diferentes abordagens e atuando em diversos setores. No entanto, a profissão só foi regulamenta graças à mobilização da categoria, ressaltando a importância de celebrar o Dia do Psicólogo.
Essa profissão, que teve sempre sua importância, ganhou ainda mais evidência com a pandemia da covid-19, que deu a saúde mental o protagonismo para o centro das discussões. É o que observamos nas empresas, a cada dia surgem mais políticas para o bem-estar psicológico, mas ainda é preciso fazer muito. Uma pesquisa da Kenoby revelou que, em 93% das empresas, ainda falta um olhar cuidadoso para essa questão.
O Dia do Psicólogo é uma data oportuna para discutir a importância da saúde mental e valorizar esse trabalho tão fundamental para indivíduos e sociedades. Por isso, convidamos o Psicólogo Elton Pereira para dividir conosco seus desafios, emoções e percepções sobre o futuro dessa carreira.
Elton Pereira
Psicólogo Clínico – Especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental
Qual o momento mais emocionante ou desafiador como psicólogo?
O meu maior desafio sempre é buscar ocupar esse lugar de suporte emocional da forma mais completa possível para que eu consiga na minha totalidade, respeitando também os meus limites, caminhar com o outro, que no momento busca ajuda e suporte emocional para lidar com as inúmeras questões que o aflige naquele instante da sua vida.
Cada paciente é um mundo a ser entendido, estudado, vivenciado e acolhido, principalmente nos seus momentos de vulnerabilidade. É mergulhar na história do outro e se despir de qualquer julgamento que possa existir sobre todo e qualquer assunto que faz parte da história do outro.
Para nossa sorte, os momentos emocionantes também existem e todas as histórias de superação que envolvem a mudança de olhar em relação à preservação da própria vida faz com que eu me sinta realizado e tenha a sensação que conseguimos êxito na proposta que foi estabelecida. Assim como o médico comemora o paciente que está vivo após uma cirurgia de alto risco, eu também comemoro quando vejo o paciente com novos pensamentos e enxergando a vida com outro olhar, que lhe proporciona uma boa saúde mental e mais qualidade de vida.
Por que a escolha da psicologia como profissão? Em que área atua?
Desde muito cedo, enquanto criança, adorava escutar os mais velhos contando histórias, nem sempre era permitido que a gente permanecesse ouvindo, mas isso me despertou a curiosidade e observar aqueles adultos contanto suas próprias histórias de vida, me encantava mesmo sendo criança. Após fazer tentativas em outras áreas, tive a oportunidade de conversar com uma amiga estudante de Psicologia e foi aí que eu não tive mais nenhuma dúvida do que eu deveria fazer.
Atualmente, sou psicólogo clínico especialista em Terapia Cognitivo-Comportamental, atendendo adolescentes, adultos e idosos. Essa abordagem é bastante específica, clara e direta e utilizada para tratar diversos transtornos mentais de forma eficiente.
Sabemos que a saúde mental sempre foi necessária e importante na nossa vida, mas atualmente a psicologia, após a pandemia da Covid – 19, se tornou essencial em tudo. Como você observa isso?
Esse é o legado positivo que a pandemia da Covid – 19 tem deixado ao longo desses mais de dois anos de impactos na vida da população. Hoje conseguimos entender de forma um pouco mais clara, a importância de cuidarmos da nossa saúde mental e as informações sobre como identificar nossas questões emocionais e procurar ajuda profissional, estão mais frequentes nos veículos de comunicação e principalmente nas redes sociais. Infelizmente o nosso principal inimigo ainda é o preconceito em relação a procurar um psicólogo ou mesmo iniciar um tratamento medicamentoso com um psiquiatra. Avançamos muito, mas ainda temos um longo percurso para ser enfrentado e desmistificado quando o assunto é cuidar da nossa saúde mental.
Qual é a sua avaliação sobre a importância da profissão atualmente?
O papel do Psicólogo na sociedade contemporânea é proporcionar ao sujeito qualidade de vida frente as diversas e intensas mudanças em todas as esferas ambientais, econômicas, tecnológicas, educacionais, sociais, saúde e políticas. A pandemia de Covid – 19 evidenciou ainda mais a importância da nossa profissão, das nossas habilidades técnicas e da possibilidade de ajudarmos não só as pessoas que estavam enfrentando o adoecimento físico, como também os que estavam vivenciando o adoecimento mental frente as mudanças globais agressivas que tivemos que nos adaptarmos de forma imediata.
O psicólogo ocupa o lugar de proporcionar ao sujeito, entender melhor sobre seus pensamentos, emoções e comportamentos. O resultado de tudo isso gera qualidade de vida e saúde mental para todos que estão em volta desse sujeito, bem como a sociedade no geral. Cuidar da nossa saúde emocional é também fechar as portas para o adoecimento físico que tem por vezes suas raízes nas questões emocionais.
Como você observa a inserção de Psicologia nas políticas de saúde pública?
Os avanços que já foram realizados nas políticas de saúde pública ainda são insuficientes para atender a demanda de saúde mental da população. O psicólogo encontra barreiras que vão desde uma teoria, que não se aplica a realidade encontrada, até as dificuldades de desenvolver o seu trabalho por falta de estrutura física adequada.
Infelizmente o acesso ao atendimento psicológico ainda não consegue chegar a todas as pessoas que precisam, e quando falamos da população mais vulnerável, essa realidade se torna ainda mais cruel e excludente. Precisamos ainda lutar por criação de novos mecanismos nas políticas públicas que possam continuar promovendo a inclusão de pessoas a esse tipo de serviço e que a psicologia não seja vista como um serviço elitizado. O adoecimento mental precisa ser visto com a mesma importancia que enxergamos o físico, as questões emocionais são invisíveis a olho nú, mas desencadeiam uma série de outros problemas que pode inclusive levar a morte do indivíduo.
Colaboração: Marconni Lima