Eu realmente não consigo entender o porquê do jornalismo cultural ou influenciadores que falam de cultura pop não estarem falando de “Supacell”, recente série britânica estreada na Netflix.
Fiz uma rápida busca e somente uma ou outra menção tímida, formal ou pouco entusiasmada. Pura falta de zelo com a (boa) diversão alheia.
Antes, quero alertar que o Reino Unido – Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte – desde sempre, produz várias e interessantes séries e minisséries. E dizendo isso, não estou sendo óbvio falando de Downton Abbey, Peaky Blinders ou The Tudor, e até mesmo Fleabag e Sherlock.
Falo de Marcella (além de excelente, também em cartaz na Netflix), Wallander, Broadchurch, Inside No. 9, Utopia e chegando até Misfits, essa que tem um certo paralelo com Supacell, pois envolve jovens com poderes extraordinários.
BBC, Channel 4 e ITV são marcas de excelência no assunto.
Entre outras similaridades com Supacell, a qualidade. Cartaz: Divulgação
Em Supacell, um grupo de jovens negros vai ter que lidar com os impactos da descoberta de superpoderes que mudam radicalmente os rumos de suas vidas.
O enredo também envolve viagem no tempo e teoria do multiverso sem cair em armadilhas ou clichês.
Tudo é atraente e nos segura na tela: a descoberta dos poderes, o desenvolvimento de cada personagem, a profundidade de seus problemas, a ação e reação das novas habilidades, o enredo labiríntico e as consequências dos dramas.
Black power: Super velocidade, telecinese, deslocamento temporal e invisibilidade. Imagem: Divulgação
O elenco principal tem o protagonismo de talentosos jovens negros e dá um importante passo na representatividade e na presença de artistas, que por muito tempo, receberam papéis secundarizados – quando não, subalternizados – em suas performances no audiovisual.
(Intervalo)
Peço esse intervalo para mudar o foco sobre o mesmo assunto e tentar demonstrar que alguns influenciadores não estão nada interessados em fomentar a discussão sobre cultura pop.
Alguns canais que dizem divulgar cultura pop se comportam muito mais como um fórum político desmiolado e conspiratório, criando uma plateia de imbecilizados e que na verdade nada ou pouco conhecem de cinema, quadrinhos ou literatura do gênero.
Dissonância cognitiva e puro viés de confirmação na cultura pop. Montagem: Brasil Paralerdos
Em suas visões equivocadas e extremadas, onde não se encontra o tal comportamento “woke”, nada merece atenção. O público incauto se bestializa. (Não se admire se num futuro próximo, essas figuras falem de “lacração” na série Supacell. Nada mais histérico.)
(Fim do intervalo)
Tenho percebido uma nova onda do movimento negro nas telas – assim como foi na década de 1970 e o Blaxploitation – e a depender de histórias, artistas e produções como a que encontramos em Supacell, o coro vai cantar alto: “I’m Black and I’m Proud”. (HD)