Essa semana, mais uma vez tropecei na política e decidi enfrentar o desequilíbrio antes da queda para então levantar e aqui compartilhar a experiência.
Assisti o (inusitado) filme “Reality” (2023) que trata do caso real da prisão de uma funcionária do governo norte-americano (linguista) supostamente envolvida no vazamento para imprensa de documentos sigilosos em relação a interferência russa nas eleições que levaram Trump à presidência.
Relembrar (sempre) é viver, já disse o filósofo ou o poeta, não lembro exatamente.
O filme já estava na minha lista há algum tempo, está em cartaz na plataforma Mubi e se baseia fielmente nas gravações (transcrições) feitas pelos próprios agentes de segurança que foram na captura da ex-funcionária pública, Reality Winner.
Reality: O retrato de uma mulher da vida real que inspirou o filme. Foto: International Network
E espero que você não espere aquele corre-corre de filmes de perseguição. A aceleração aqui tem mais compromissos com a realidade.
Como disse, a história toma sua forma descritiva entre a hora da chegada dos agentes na casa da suspeita para averiguação até o interrogatório que vai acontecendo naturalmente durante o episódio.
O filme é um primor em sua construção narrativa (usa diretamente as verdadeiras gravações que vão sendo levemente mostradas no filme). Lento, minucioso e claustrofóbico, e exatamente dessa forma, reside sua grande força em nos levar para o drama que ali acontece.
Outro “truque” (ou “toque”, que casaria melhor) usado no filme, cria breves distorções na tela quando o assunto envolve temas que foram censurados na transcrição e tenho que reconhecer, um toque de mestra (quem dirige é Tina Satter). Todos nós ficamos no escuro da informação. Isso traz uma infalível carga de tensão.
Risadas e assuntos constrangedores vão adicionando o “cheiro da vida real” no cada vez mais inevitável e crescente medo do aprisionamento da protagonista. É um filme que mais parece um documentário.
Sydney Sweeney: Atriz vive o drama e o mistério na vida de Reality. Imagem: Divulgação
A muriçoca da curiosidade me beliscou e fui logo querendo saber mais e assim cheguei no documentário “Agentes do Caos”, produzido pela HBO. Um baita trabalho de pesquisa e de análise sobre o mesmo assunto que levou Reality à prisão: a interferência dos russos nas eleições norte-americanas de 2016 (só lembrando).
O documentário é dividido em duas partes. O primeiro episódio demonstra como os tentáculos de uma agência (de desinformação) chamada IRA (Internet Research Agency), manipula, constrói narrativas e distribui sensações como medo e insegurança.
Sede do IRA em São Petersburgo: Fábrica de trolls e as eleições de 2016 nos EUA. Imagem: I. Network
O Alvo sempre é (na maioria das vezes) a confiança. “Confiança é difícil de conquistar e muito fácil de perder”, observa o narrador. E confiança é tudo que as instituições democráticas precisam para se estabelecer.
A pergunta é: Quem é que se beneficia com essa perda de confiança?
O documentário consegue demonstrar como ocorre a construção de narrativas (pró ou contra, contanto que estimule a revolta) através de perfis, sites e conteúdos falsos, que até pareceria enredo de teoria da conspiração se não fosse a quantidade de elementos, conteúdos e testemunhas que demonstram uma ordenada estratégia de criação do caos.
O IRA manipula e eleva o nível da desconfiança e da polarização.
Acho que nunca compartilhei esse livro. Ainda está fazendo todo sentido. Imagem: Amazon
O primeiro episódio da docusérie “Agentes do Caos” nos conecta bem mais, inclusive porque o Brasil importou o que de pior existe nessas táticas de manipulação, e tenho demonstrado isso em alguns de meus artigos anteriores. (Sobre o documentário episódico “Shadowland” da Peacock)
O segundo episódio tem um caráter mais doméstico e mira bem mais na influência das táticas dos manipuladores dentro do próprio país.
E Mr. Trump vem aí… (HD)