
Um espetáculo de filme!
Uma imersão nos fatos pretéritos; a emoção materializada em um total silêncio na sala do cinema; aplausos longos após a exibição. Sim, foi assim a experiência que tive hoje ao assistir ao filmeAinda Estou Aqui.
Um filme com uma narrativa forte e de uma sensibilidade enorme. Um filme que retrata de forma pedagógica o período violento da ditadura. Um filme que revelou o poder que se manifestava através da violência de uma elite antidemocrática: asquerosos milicos generaistorturadores. A foto de Emílio Médici, na parede, em uma cena do filme, não deixa de ser repugnante.
A força do longa-metragem, um drama biográfico, é incrível.
A sensibilidade na abordagem da família Paiva reflete o significado da Luta e da Resistência na busca dos mortos-desaparecidos, quando do período em que os “porões da ditadura” ganhavam a validação institucional para a prática de torturas e assassinatos no interior de delegacias e presídios, como exemplifica o “desaparecimento” de Rubens Paiva, bem como os esforços de Eunice Paiva, ao tentar localizar – nem que seja – o corpo do seu esposo, revelando-nos uma força gigantesca, resultante de uma unidade familiar forte.
O filme nos dá uma referência da imagem de Rubens Paiva, assassinado entre 1971 e 1972, cujo atestado de óbito só veio ser emitido décadas depois apontando a seguinte causa mortis: morte não natural, violenta, causada pelo Estado brasileiro. E o corpo? O corpo do engenheiro e ex-deputado federal Rubens Paiva nunca foi encontrado.
Graças ao cinema, a arte e a cultura que sempre foram atacadas no passado,puderam, em um presente recente, dar um corpo a Rubens Paiva. O filme entregou uma imagem de Rubens Paiva para a geração que não viveu a ditadura, também para parcela da sociedade que mais parece preferir esquecer o período sanguinário que se estabeleceu a partir de 1964 e, finalmente, para a geração futura que precisará saber o que foi o regime de chumbo da ditadura militar.
Ao ser indicado ao Oscar, em três categorias, melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz, a obra de Walter Sales deixa bastante claro que décadas de ditadura não quebraram a resistência, não levaram ao fim a democracia, posto que ainda estamos aqui e sempre estaremos aqui.

Por Professor Sucupira